quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Ministra alemã da educação terá de devolver diploma por plágio

A decisão da Universidade de Dusseldorf de cassar o diploma da Ministra da Educação após ter sido constatada a ocorrência de plágio em vários trechos da tese de doutorado dela acompanha uma tendência que já levou outras autoridades à perda de seus títulos. E se pode esperar que muitos outros casos semelhantes ainda virão à público. É que a temporada de "caça aos plagiários" está aberta na Alemanha e websites como o GuttenPlag e o VroniPlag, mantidos por acadêmicos e voluntários anônimos têm se dedicado exclusivamente a fazer o escaneamento em softwares de detecção do plágio dos trabalhos acadêmicos feitos por acadêmicos ilustres. A julgar pelos casos recentes, pode-se esperar um efeito dominó envolvendo muito outros trabalhos acadêmicos... Diante disto, duas observações importantes: 1) Se este tipo de ação for expandida e passar a ser realizada em outros lugares como, por exemplo, no Brasil, os resultados obtidos não serão muito diferentes: vários trabalhos serão identificados com passagens plagiadas. Por que? Nem sempre o plágio acadêmico ocorre por má-fé e a falta de precisão na identificação das fontes, desconhecimento ou negligência quanto ao uso das regras de documentação científica ou mesmo desorganização durante a redação do trabalho, são alguns dos fatores que podem ocasionar a ocorrência do plágio acidental. Contudo, isto não justifica a ocorrência do plágio, pois a ausência de intencionalidade não é suficiente para absolver responsabilidades. O que cabe pensar diante disto é que apesar do plágio ser um problema bastante antigo, é um assunto complexo que não se enfrenta apenas com medidas punitivas. É preciso reconhecer que no processo de formação científica a dedicação aos estudos de criação, redação científica e mesmo conhecimento sobre o plágio são assuntos que têm quase ou nenhum espaço nos programas de ensino das universidades. Neste caso, a cobrança ou mesmo a punição sobre condutas indesejadas, mas que não foram ensinadas ou sequer consideradas como objeto de aprendizagem para que fossem identificadas e evitadas é algo que precisa ser no mínimo repensado sob o risco de se instituir mecanismos de controle ineficazes por agirem especificamente sobre efeitos indesejados enquanto que seria muito mais proveitoso o investimento de esforços relacionados à identificação e tratamento das causas da ocorrência. Esta observação leva ao segundo ponto: 2) Antes que estas iniciativas de "caça às bruxas" virarem moda, é muito mais interessante que as instituições reflitam em que medida têm se preocupado e contribuído para que seus acadêmicos tenham um desempenho indelével. Este tipo de iniciativa, além de evitar um olhar retrospectivo que no máximo serve como condição importante para análises diagnósticas, direciona o foco das atenções para o desenvolvimento de ações voltadas para a prevenção da ocorrência do plágio em trabalhos acadêmicos daqui para a frente. A grande importância da identificação dos erros cometidos no passado está nas lições que se pode aprender por meio deles para que se evite a sua reprodução na atualidade e no futuro. Entretanto, isto ainda é um desafio a ser assumido no enfrentamento do plágio acadêmico, pois ainda repercute muito mais os casos de ocorrência e punição do que o debate sobre ideias e estratégias que podem contribuir para que este problema seja minimizado. E embora não tenham tanta repercussão, iniciativas internacionais têm avançado neste sentido em diversas áreas: na promoção da cultura de integridade acadêmica; na utilização de formas alternativas para a apresentação de relatórios de pesquisa; na disponibilização generalizada de informações sobre o plágio entre os acadêmicos, entre outras. Em suma, são ações que refletem as preocupações educativas das instituições muito mais do que as punitivas. O que de fato interessa!